Sangha Virtual

 Estudos Budistas

Tradio do Ven. Thich Nhat Hanh

 

Abraando as sementes negativas

 

O Buda te chama de volta para si mesmo para cuidar da sua situao interna. A conscincia mental como a sala de estar, e a conscincia armazenadora como o poro - colocamos as coisas que no gostamos l embaixo. Mas as formaes internas sempre tentam emergir. Elas no precisam ser convidadas para a sala de estar, apenas empurram a porta aberta, entram e se estabelecem.

 

Quando a nossa sala de estar no parece arrumada e bonita, sofremos. Trancamos a porta, praticamos a supresso. Ns no queremos que esses ns surjam. Convidamos outros convidados a entrar na sala para que cada minuto de nossa vida seja preenchido com jornais, romances, revistas, televiso, conversas e telefone. Fazemos de tudo para manter a sala ocupada, para que as coisas desagradveis __no apaream. A maioria de ns faz isso porque temos medo de ns mesmos. Existem muitas desvantagens nesse comportamento.

 

A primeira desvantagem que os convidados causam mais danos base do nosso ser. Ns consumimos toxinas diariamente. Entretemos as toxinas em nossa conscincia mental por uma hora, assim tambm estamos nutrindo nossas formaes internas em nossa conscincia armazenadora. Uma hora de televiso alimenta as sementes do medo, do desejo e do desespero em nossa conscincia. Este o processo de autointoxicao. Tambm permitimos que nossos filhos fiquem intoxicados com a televiso por vrias horas por dia. Temos que praticar o consumo consciente da televiso.

 

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A segunda desvantagem de manter nossa conscincia mental ocupada por coisas prejudiciais que criamos m circulao em nossa psique. Como o nosso sangue, nossa psique deve circular corretamente. Se a nossa circulao sangunea fraca, ento sintomas de doenas aparecem. Se nos massagearmos, nosso sangue flui melhor. O ponto mais doloroso do nosso corpo precisa ser mais massageado, porque contm mais toxinas.

 

Da mesma forma, precisamos massagear os pontos de dor e sofrimento em nossa psique. Ao buscar a distrao, fazemos o oposto e impedimos o sangue da psique de circular. Ns no queremos que nossos blocos de sofrimento apaream. Quando a psique est bloqueada e tem m circulao, surgem sintomas de doena mental. Temos que fazer algo para restaurar a boa circulao em nossa psique. Precisamos abrir a porta para que a dor e a tristeza que tememos possam circular. por isso que o Buda nos ensina a cultivar a energia da ateno plena para que estejamos prontos para abraar nossa dor quando ela emergir.

 

Quando as sementes de dio, raiva ou violncia emergem, elas se manifestam como formaes mentais. A conscincia mental o lar de formaes mentais. Quando permitimos que nossa energia negativa aparea, estamos prontos para tocar nossas sementes de entendimento, despertar e ateno plena. Ns as convidamos para a superfcie para que elas possam nos ajudar a cuidar da nossa dor. por isso que a prtica diria da ateno plena to importante. Precisamos dessa energia positiva para nos ajudar a abraar nossa dor.

 

Se a sua energia da ateno plena no for forte o suficiente para abraar a sua energia negativa, pea a algum para se sentar perto de voc e emprestar sua ateno plena, de modo que, juntos, voc seja forte o suficiente para abraar os sentimentos. Pegue a mo de seu amigo, seu filho, sua filha ou de seu parceiro. Respire com ele, gerando a energia da ateno plena. Ajude-o a abraar a raiva ou desespero dele.

 

Durante este processo de abraar e reconhecer, a energia da ateno comear a penetrar na energia negativa. Esta uma prtica linda. Voc cuida do seu sofrimento e ajuda o seu amado a cuidar do sofrimento dele. As famlias devem fazer isso com frequncia. Isso meditao. A meditao no apenas estar sentado em silncio no salo de meditao.

 

A ateno plena como a luz do sol. De manh, a tulipa ainda no est aberta. O sol nasce e comea a iluminar a tulipa. A luz feita de pequenas partculas chamadas ftons. Quando a luz do sol abraa a flor, os ftons tentam penetrar na flor. Se o sol continuar a brilhar por algumas horas, haver energia suficiente para a flor abrir seu corao para o sol.

 

Ns deixamos nossa ateno terna abraar nossa raiva, como uma me abraa seu beb que sofre. Ns dizemos: "Estou aqui. No se preocupe, eu vou cuidar de voc." Este o nosso primeiro mantra. medida que continuamos a segurar o beb que sofre em nossos braos de terna ateno plena, a energia da ateno plena comea a penetrar em nossa aflio. como quando uma me de repente ouve seu beb chorando. Ela para o que est fazendo, pega o beb e o segura carinhosamente em seus braos, sem sequer saber o que h de errado com ele. O beb pode encontrar algum alvio e parar de chorar apenas por ter sido segurado com ternura.

 

Quando voc gera a energia da ateno plena e abraa sua raiva, mesmo que a raiva ainda esteja presente, voc encontra algum alvio. A segunda forma de energia comeou a penetrar na primeira. Se a me continua a segurar seu filho por um tempo, ela capaz de ver o que est errado com ele. Uma me muito habilidosa nessa prtica. Com insight, a me pode facilmente remediar a situao. Se o beb est com fome, ela lhe d um pouco de leite. Se sua fralda est muito apertada, ela afrouxa. Se est doente, ela d o remdio correto. Felicidade e bem-estar so os resultados.

 

Enquanto seguramos nosso bloco de dor, encontramos algum alvio. Olhando profundamente para ele, temos algumas ideias sobre a natureza de nossa raiva e aflio. Essa percepo nos liberta. s vezes, no conseguimos cem por cento, mas sempre conseguimos at certo ponto. Depois de segurar o beb que sofre por um tempo e encontrar algum alvio, nosso sofrimento voltar nossa conscincia armazenadora na forma de uma semente. Ele surgir novamente em algum momento no futuro. Quando emergir, praticaremos da mesma maneira - segurando-o com ternura.

 

Toda vez que fazemos isso, nossa dor e tristeza enfraquecem um pouco mais antes de retornarem base. Ns ganhamos alguma confiana, sabendo que temos a capacidade de segurar e cuidar da nossa tristeza. Isso maravilhoso.

 

(Do livro The Path of Emancipation Thich Nhat Hanh)

(Traduzido por Leonardo Dobbin)

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