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Estudos Budistas

Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

Caminho de paz

Houve um momento em que eu trabalhava como ativista ambiental. A certa altura eu simplesmente não gostava de nada. Não gostava de ninguém que trabalhava comigo, com a situação ao meu redor, não gostava de nada, e fiquei com raiva de tudo e de todos.

Então eu disse: "Don, espere um minuto. Foram essas pessoas que foram a causa do meu sofrimento?" "Por que estou bravo com todo mundo, minha família, meus colegas?" "Tem que ser algo dentro de mim. Não está lá fora." Foi quando parei.

Na verdade, houve outra situação em que percebi que tinha que parar. Eu estava esgotado. Nesse momento eu estava trabalhando com meu laptop no escritório e de repente fui ao banheiro e vomitei. Foi quando percebi que o estresse era demais para mim.

Eu estava gostando muito do meu trabalho. O engraçado é que me esforcei tanto que fiquei literalmente doente. O estresse, os problemas de relacionamento. Eu senti que o trabalho estava aumentando a conscientização e isso tem um impacto. “E se eu não fizer o trabalho com rapidez ou eficácia suficiente, não poderei ajudar essas vítimas”. Então tudo isso me afetou. Isso afetou minha saúde.

Eu disse para mim mesmo, “ok, tenho que parar, olhar para dentro. O que é que está criando todos esses problemas fora de mim e dentro de mim?” Decidi me tornar um monge, mas naquela época eu ainda não conhecia Plum Village. Eu estava na Tailândia, então me tornei monge Theravada por cinco meses, para me consertar, consertar minha raiva. Funcionou temporariamente.

Depois dos cinco meses, meu relacionamento com minha família melhorou muito. Mas como eu não tinha uma Sangha, não sabia como manter a minha prática. Durou apenas alguns meses. Então, voltei ao estado normal novamente. O relacionamento com minha família teve altos e baixos.

Naquela época eu decidi continuar meu estudo. Em vez de fazer essa campanha sobre questões polêmicas, decidi estudar energias renováveis. Achei que poderia focar mais no lado positivo das coisas, promover soluções e tive a oportunidade de trabalhar para outra ONG. É uma organização sem fins lucrativos que trabalha no desenvolvimento sustentável, e o meu trabalho era tentar promover as energias renováveis, trabalhando com as autoridades da Tailândia, apoiando a política de energias renováveis.

Mas eu também não estava feliz trabalhando no escritório porque pude ver o sofrimento nas pessoas com quem trabalho, até mesmo entre os meus colegas, pessoas que trabalham nesta chamada solução positiva. Havia ciúme, havia raiva. Havia insatisfação na vida, mesmo entre empresas que vendem produtos de energia renovável, células solares, etc. Pude ver ganância nelas.

Foi mais ou menos nessa época que me deparei com Plum Village, quando Thay e a Sangha vieram para a Tailândia em 2010. Fiquei tão profundamente tocado e comovido pelos ensinamentos de Thầy e pelo aprendizado sobre sua vida no passado como ativista pela paz e como ele usa a prática para boas causas. Isso me tocou profundamente. Também sobre a transformação, a reconciliação dentro de si, como isso afeta as pessoas mais próximas, seus amigos, sua família, a sociedade.

Eu percebi que a missão de Plum Village se encaixa perfeitamente na minha aspiração. Ajudar os outros e também ajudar a mim mesmo, minha família. Essa transformação, tudo em um, a autotransformação transforma amigos, familiares e o mundo exterior.

De fato, sinto que ajuda ir ainda mais fundo, porque pude ver que muitos dos problemas que existem no mundo hoje em dia, têm causas profundas dentro de cada um de nós, como a ganância, o medo, a desconfiança, a raiva, etc. Estas coisas são as causas de tantos problemas por aí, crimes, poluição ambiental, questões de direitos humanos, todos estes problemas. Tudo se resume a todas essas aflições em cada um de nós.

Para mim isto é resolver os problemas pela causa raiz. Dessa forma não apenas tentar, não apenas ajudar a resolver esses problemas, mas também evitar que muitos problemas aconteçam.

Temos a oportunidade de trabalhar com jovens. Essas crianças, quando conhecem a prática de como lidar com suas emoções, sementes são plantadas neles e eles ao crescer se tornam bons adultos. Eles não apenas não se envolvem em drogas, crimes e coisas assim, mas também desejam ajudar os outros. Então, para mim, isso é prevenir problemas na causa raiz.

Portanto, este caminho monástico me atraiu muito porque não só me ajuda a reconciliar-me com a minha família, mas também me ajudou a ser capaz de apoiar os outros lá fora. Não apenas os ativistas ficam esgotados, mas todos.

(Palestra de Darma do irmão Troi Nguyen Luc: em 31 de maio de 2021– transcrito do vídeo do YouTube

https://youtu.be/Ng_IboBNsvo)

Traduzido por Leonardo Dobbin)

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