Sangha
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Estudos Budistas
Tradição
do Ven. Thich Nhat Hanh
Fale apenas quando absolutamente necessário
Devemos aprender a ouvir e a falar. Falar apenas quando sentimos que é absolutamente necessário falar. Sempre que abrimos a boca, deve haver uma razão muito válida para falar. Falar porque ajuda a outra pessoa. Quando a outra pessoa fala, devemos aprender a ouvir com o máximo cuidado e respeito.
Os ensinamentos do Buda —as palavras que o Buda proferiu, eram — e ainda são hoje, descritas como "palavras plenas e abrangentes". "Viên âm" em sino-vietnamita. "Viên âm" significa palavras que têm o poder de curar, tocando os corações não apenas de uma pessoa, mas de muitas. Este caractere chinês, com a pronúncia vietnamita "viên", significa "pleno e abrangente", e "âm" significa "som" ou "voz".
Os sons das palavras do Buda são muito plenos e abrangentes. "Pleno e abrangente" aqui significa abrangente, inclusivo, sem deixar ninguém de fora. Têm o poder de curar não apenas uma pessoa, mas muitas. Isso é "viên". Também precisamos aprender a falar palavras plenas e abrangentes da mesma forma.
Digamos que quando Thay dá uma palestra sobre o Dharma —isto acontece quase todos os dias— na sangha, na audiência, alguém pensa: "Sinto que o que Thay está dizendo nesta palestra do Dharma é para mim. Ele está falando diretamente para mim. Ele fala sobre mim." Mas sentado ao lado dessa pessoa está alguém que pode sentir o mesmo. "Como é possível que Thay saiba o que se passa dentro de mim e fale diretamente ao meu coração? Certamente, o que Thay está dizendo nesta palestra é exclusivamente para mim."
No fundo da sala, outra pessoa pode sentir o mesmo. Às vezes, há palestras que conseguem tocar a profundidade dos corações de todos na comunidade. Uma palestra assim é caracterizada pela plenitude e abrangência dos ensinamentos transmitidos. Essa palestra não é dada apenas para uma pessoa, mas para todos.
Todos se beneficiam da mesma forma. Tal como quando a chuva cai, não só as grandes árvores recebem água para prosperar, mas também os pequenos arbustos e plantas recebem o mesmo. Sejam árvores da floresta ou trepadeiras, todas as espécies de vegetação podem receber a água da chuva igualmente.
O mesmo acontece com as palestras do Dharma do Buda. Elas beneficiam toda a comunidade da mesma forma. Quando uma palestra do Dharma é dada, a chamamos de "ensinamentos plenos e abrangentes." Mesmo que sintamos que "O que Thay está dizendo nesta palestra é exclusivamente para mim," o fato é que muitas outras pessoas que também se beneficiam da palestra sentem o mesmo. Sentem que o que Thay está falando é sobre eles.
É por isso que nunca devemos pensar que o que Thay está dizendo numa palestra do Dharma é para apenas uma pessoa. As palestras do Dharma têm um propósito muito elevado. Elas se destinam a oferecer práticas concretas, ou seja, portas do Dharma, para todos. As palestras do Dharma nunca podem ser usadas para criticar uma única pessoa, nem para repreender alguém em específico.
Uma palestra do Dharma tem de ter um propósito elevado, ou seja, os ensinamentos ou palavras transmitidas precisam de ser plenos e abrangentes. Devemos ouvir uma palestra do Dharma com o coração aberto. Trazemos todo o nosso sofrimento e experiências de vida para ouvir uma palestra do Dharma.
Abrimos todo o nosso ser para que uma palestra do Dharma —como a chuva, possa cair sobre as sementes adormecidas no solo do nosso coração e mente. Não devemos resistir ao que está sendo dito numa palestra do Dharma. Tendemos a resistir com as nossas opiniões, com as nossas ideias e percepções pré-concebidas. É como quando estendemos uma folha de plástico sobre um pedaço de terra. Tornamos a água da chuva impenetrável no solo.
Em geral, no solo do nosso coração e mente, há muitas sementes de compreensão e despertar enterradas nas profundezas. Se conseguirmos abrir o nosso ser, se conseguirmos abrir a terra e o solo do nosso coração e mente para que a palestra do Dharma possa entrar e penetrar, é possível que, um dia, as preciosas sementes boas em nós —as sementes da compreensão e do despertar, absorvam a fresca água da chuva do Dharma, rompam a terra, germinem, floresçam e deem frutos para nós e para todos.
Esse é o verdadeiro espírito de ouvir uma palestra do Dharma. Nos abrir e não resistir. Não resistirmos à palestra do Dharma. Não comparamos e não julgamos ou criticamos com as nossas ideias pré-concebidas, ou com o nosso conhecimento intelectual acumulado.
(Palestra de Darma: em 9 de abril de 1998– transcrito do vídeo do YouTube
https://youtu.be/QnOV0km3--0)
Traduzido por Leonardo Dobbin)
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