Sangha Virtual

 Estudos Budistas

Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

 

Nirvana

 

Queridos amigos, aprendemos sobre o exercício da impermanência, da interexistência e do nirvana. Anteontem eu disse que tocar o nirvana não é algo muito abstrato e que podemos fazer no momento presente. Foi o Buda quem disse que nirvana, você pode tocá-lo com seu próprio corpo.

 

Quando eu disse que "Vivenciando a impermanência, eu inspiro", todos sentiram que isso é algo que todos nós podemos fazer. Podemos tocar a realidade da impermanência e inspirar. Mas quando eu disse que "vivenciando o nirvana, eu inspiro", parece que você não acreditou que pudesse fazer isso. E eu disse que não é mais difícil do que experimentar a impermanência.

 

É exatamente como quando você toca a água, quando você toca a onda. "Tocando a onda, eu inspiro", você acha que pode fazer. Mas quando digo "tocando a água, eu inspiro", você sabe que também pode fazer isso, porque água e ondas são uma coisa só. Portanto, a impermanência e o nirvana são um como uma onda e a água, porque a natureza de tudo é impermanência, é interser, é não-eu. Se você tocar o mundo fenomenal profundamente, ao mesmo tempo poderá tocar a base do ser. É como tocar a onda com atenção, você está tocando a água.

 

Em muitos sutras Mahayana foi declarado que tudo foi nirvanizado há muito tempo, e você habita no nirvana. Sua verdadeira natureza é sem nascimento / sem morte, sem ser / sem não ser, porque o nirvana é a extinção de todos esses tipos de ideias e noções.

 

Em primeiro lugar, a noção de nascimento e morte. Outro dia fizemos uma demonstração para mostrar que tudo compartilha a natureza de não nascimento / não morte. Nascimento e morte são mais uma percepção do que uma realidade, porque sabemos que do nada você nunca pode ser algo, de ninguém você nunca pode se tornar alguém, e de algo você não pode ser reduzido a nada, de ser você não pode ser reduzido a não-ser.

 

É por isso que esses pares de opostos devem ser removidos: nascimento / morte, ser / não ser. Outro dia eu disse que ser ou não ser, essa não é a questão. A questão é se você pode tocar a natureza do interser para estar ciente de que está livre do nascimento e da morte, do ser e do não-ser.

 

Há a noção de ir e vir. De onde eu vim? E para onde devo ir? Essa é uma questão filosófica também, mas de acordo com este ensinamento você vem do nada e não vai a lugar nenhum. Você apenas se manifesta quando as condições são suficientes e quando as condições não são mais suficientes você não tem a percepção de que existe e pode pensar que não existe mais.

 

Em muitos discursos do Buda é repetido continuamente que quando as condições são suficientes, as coisas se revelam e tendemos a acreditar que existem, elas são. Mas quando falta uma das condições e as coisas não se manifestam tendemos a pensar, a acreditar, que as coisas não existem, que existe o não-ser. É por isso que o termo mais usado na literatura budista é o termo manifestação. Quando as condições são suficientes, as coisas se manifestam à nossa percepção. Quando não vemos, não percebemos, não significa que o não-ser está aí.

 

É como se esta sala estivesse cheia de sinais de programas de televisão, cores, imagens e sons. Porque não temos uma máquina para captar este sinal, temos a impressão de que não tem nada. Mas se temos uma televisão, uma condição a mais, então começamos a ver o som, as cores, a forma e assim por diante. Portanto, não é porque eles não se manifestam que podemos descrevê-los como inexistentes. Nossa percepção é assim. Portanto, os termos ser e não-ser, nascimento e morte são apenas noções. Eles não podem ser atribuídos à realidade.

 

Outro par de opostos é um e muitos, o um e os muitos, unidade e pluralidade. Sabemos que a realidade é livre de ambos os conceitos, A realidade é uma e são muitas. Já falamos sobre a consciência como individual e coletiva e podemos pensar que a consciência coletiva é uma realidade independente da consciência individual. Mas, na verdade, se você olhar para a consciência individual, verá a consciência coletiva e vice-versa. Quando falamos sobre a transformação na base perguntamos se essa base é a base da nossa consciência individual ou a base de nossa consciência coletiva, mas na verdade, elas são um. Você não pode desenhar uma linha que separa o indivíduo e o coletivo. A ideia de coletivo e individual também é um par de opostos.

 

(Palestra de Dharma de Thich Nhat Hanh em 7 de junho de 1998 – transcrito do vídeo do YouTube

https://youtu.be/dHZtecWrpFU)

Traduzido por Leonardo Dobbin)

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