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 Estudos Budistas

Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

 

Porque os seres humanos tem carmas diferentes?

 

Thay: Você tem certeza? Carma é ação, a palavra carma significa ação. Meu nome, Nhat Hanh significa 'uma ação apenas'. Nhat significa 'um/uma' e Hanh significa 'ação'.

 

Carma pode ser causa ou pode ser efeito. Karma Hetu é ação como uma causa e Karma Phal Kaala é ação como um fruto. Causa e efeito estão unidos. Você não pode remover a causa do efeito e você não pode remover o efeito da causa. É como o grão de milho que é a causa e as espigas de milho são o efeito, mas eles não são duas entidades separadas. Você não pode remover o grão de milho da planta do milho, e você não pode remover a planta do milho do grão de milho.

 

Portanto, causa e efeito não são duas entidades diferentes; um é a continuação do outro. A planta do milho é a continuação da semente de milho na direção do futuro, e o grão de milho continua o grão de milho na direção do passado. Graças ao grão de milho, a planta do milho tem acesso aos ancestrais; e graças à planta do milho, os ancestrais têm acesso ao futuro. Esta é uma colaboração maravilhosa fundamentada no não-eu. Existe apenas uma continuação e isso é do ponto de vista do tempo. Do ponto de vista do espaço é o mesmo.

 

Existe o que nos chamamos de carma coletivo e carma individual. Você está falando sobre o carma individual. Isso é diferente do outro carma, mas se você refletir sobre o individual e o coletivo, você dará um grande passo. Isso porque as noções de individual e coletivo são também um par de opostos a serem transcendidos.

 

Quando um jovem diz ao pai dele: "Esse é o meu corpo." "Essa é a minha vida." "Eu tenho liberdade e tenho o direito de fazer o que eu quiser com o meu corpo." 'Minha vida' é uma visão de que eu não sou você. 'Eu tenho meu próprio corpo, meus próprios sentimentos, minha própria vida.' 'Eu tenho o direito de tomar o caminho que eu quiser na minha vida.' E os nossos jovens dizem algo do assim.

 

Eles não sabem que eles são uma continuação do seu pai e da sua mãe. De fato, eles não podem machucar, eles não têm o direito de machucar o pai. Cometer suicídio é uma ofensa: você está matando o seu pai, você está matando a sua mãe, os seus ancestrais, quando você comete suicídio.

 

Esse corpo não é seu. Esse corpo é uma propriedade do seu pai, dos seus ancestrais. Com esse tipo de insight você não se comportará da forma como muitas pessoas se comportam, baseado na visão incorreta.

 

Portanto, meditar é ver a natureza da interexistência, do não-eu. O que permite a você agir apropriadamente e a não causar sofrimento, que é carma. O seu corpo não é uma propriedade individual, ele também não é uma propriedade coletiva, ao mesmo tempo. O seu corpo é um produto coletivo da sua nação, do seu povo, da sua cultura, dos seus ancestrais.

 

Portanto, você não é estritamente individual, você é parcialmente coletivo. Depende da maneira de olhar para ver se você é mais ou menos coletivo. Seus nervos ópticos parecem ser algo estritamente individual, isso interessa somente a você. Seus nervos ópticos, seriam algo absolutamente individual. As pessoas não os vêm, elas não estão preocupadas com eles, isso interessa somente a você. Essa é uma noção de indivíduo e coletividade.

 

No entanto, se você é um motorista de ônibus, nossas vidas dependem dos seus nervos ópticos. Então os seus nervos ópticos não são mais individuais, eles pertencem a nós porque nossas vidas dependem dos seus nervos ópticos. Então, os seus nervos ópticos são algo que você descreve como individual; mas, na verdade, eles são coletivos.

 

Portanto, nós temos a noção de carma coletivo e carma individual e qualquer carma, seja ele individual ou coletivo, afeta o todo. O carma pode ser melhor ou pior.

 

Quando 600 pessoas vêm a um retiro, elas leem algo juntas, como ação coletiva; elas se sentam, caminham, respiram, sorriem, compartilham, e isso é uma ação coletiva; e nós nos beneficiamos com isso.

 

Existem aqueles no mundo que, neste momento, não estão praticando como nós, e eles estão bebendo, eles estão dançando e gastando o tempo deles de uma maneira muito diferente. Nós fomos hábeis ao separar três semanas para vir juntos e compartilhar uma ação coletiva aqui, que nós acreditamos ser uma boa ação porque todos os dias nós regamos as sementes da atenção plena, da compreensão, da compaixão em nós e no coletivo.

 

Mas no coletivo você pode ver os indivíduos. Existem aqueles que se saem melhor do outros. Existem aqueles de nós que podem achar isso passível de transformar, deixar para trás o fardo das preocupações nos primeiros cinco dias. Existem também aqueles que precisam de mais do que isso, apenas na terceira semana que eles conseguem soltar e diminuir suas preocupações.

 

Portanto, no coletivo existe o indivíduo e no indivíduo existe o coletivo. Não há individualidade absoluta, não há coletividade absoluta, essa é a verdade. Isto é outro par de opostos e se você pratica a observação profunda, pode removê-los.

 

Você vê que qualquer carma afeta a todos nós. Qualquer bem que estamos fazendo aqui está ajudando o mundo. Por isso temos que ser confiantes de que o carma não está perdido. Qualquer pensamento de compaixão e perdão que nós produzimos ajudam não apenas a nos curar, mas ajuda o mundo.

 

Durante os 21 dias que nós estivemos produzindo pensamentos de compaixão, de bondade amorosa, essa é a nossa melhor contribuição para o mundo. Por isso a nossa ação de carma não é diferente e nem é igual porque igual e diferente também são um par de opostos. A Visão Correta repousa no fato de que você é capaz de remover todos esses pares de opostos.

 

(Thich Nhat Hanh responde pergunta 21 de junho de 2014 – transcrito do vídeo do YouTube

https://youtu.be/IedzR2nufZg?si=ydzoX9tZjTEPuhLr)

Traduzido pela comunidade de Plum Village)

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