Sangha Virtual

 Estudos Budistas

Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

 

A Prática é Mais Fácil com a Sangha

 

O único caminho para apoiar o Buda, apoiar nossa Sangha, apoiar a Terra, apoiar nossos filhos e as futuras gerações, é realmente estar presente para eles. “Querida, eu estou aqui para você” é uma declaração de amor. Você precisa estar aqui. Se você não estiver aqui, como poderá amar? É por isso que a prática da meditação é a prática de estar aqui para aqueles que amamos.

 

Estar presente soa uma coisa fácil de fazer. Para muitos de nós, é fácil porque fizemos disso um hábito. Temos o hábito de morar no momento presente, de tocar o brilho do sol da manhã profundamente, de beber nosso chá matinal profundamente, de sentar e estar presente com a pessoa que amamos. Mas para alguns de nós pode não ser tão fácil porque não cultivamos o hábito de estar aqui e agora. Estamos sempre correndo e é difícil parar e estar aqui no momento presente, encontrar a vida. Para aqueles de nós que não aprenderam a estar presente, é necessário serem apoiados nesse tipo de aprendizado. Não é difícil quando você é apoiado por uma Sangha. Então você será capaz de aprender a arte de parar.

 

A Sangha é uma casa maravilhosa. Cada vez que você volta para a Sangha, pode sentir que pode respirar mais facilmente, pode andar com mais consciência, pode desfrutar melhor do céu azul, das nuvens brancas e das árvores do jardim. Por quê? Porque os membros da Sangha praticam voltar para casa muitas vezes por dia, através da caminhada, da respiração, enquanto cozinham e ao fazer suas atividades diárias em plena consciência. Todos na Sangha estão praticando da mesma forma, andando em plena consciência, sentando em plena consciência, rindo, desfrutando cada momento da vida.

 

Quando eu pratico o caminhar, faço de forma consciente com passos bonitos. Eu faço isso não apenas por mim, mas também por todos os meus amigos que estão aqui porque todos que me vêem dando um passo assim têm confiança e se lembram de fazer o mesmo. E quando dão um passo no momento presente, rindo e construindo a paz dentro deles mesmos, eles inspiram a todos nós. Você respira por mim, eu ando por você, fazemos coisas juntos, e isto é praticar como uma Sangha. Você não precisa de muito esforço e gostará muito de fazer isto. Quando você tem uma boa Sangha, sua prática será fácil porque você sente que é apoiado por ela.

 

Quando sentamos juntos como uma Sangha, desfrutamos da energia coletiva da plena atenção e cada um de nós permite que a energia de plena atenção da Sangha penetre em nós. Mesmo que você não faça nada, se apenas parar de pensar e se permitir absorver a energia coletiva da Sangha, já será muito curador. Não lute, não tente fazer alguma coisa, permita apenas a si mesmo estar com a Sangha. Permita a si mesmo descansar e a energia da Sangha te ajudará, te carregará e te apoiará. A Sangha está lá para tornar os treinamentos fáceis. Quando estamos cercados por irmãos e irmãs fazendo exatamente a mesma coisa, é fácil fluir na corrente da Sangha.

 

Como indivíduos temos problemas e também temos problemas nas nossas famílias, sociedades e nações. A meditação no século vinte e um deveria se tornar uma prática coletiva, sem a Sangha não podemos conquistar muito. Quando começamos a focalizar nossa atenção no sofrimento em larga escala, começamos a nos conectar e nos relacionar com outras pessoas, que também são nós mesmos, e os pequenos problemas que temos dentro de nosso círculo individual vão desaparecer. Deste modo nossa solidão ou nosso sentimento de estar cortado não mais estará presente e seremos capazes de fazer coisas juntos.

 

Se trabalharmos nos nossos problemas sozinhos será mais difícil. Quando tem uma emoção forte, você pode sentir que não pode suportá-la. Você pode ter um colapso ou querer morrer. Mas se tem alguém, um bom amigo sentando com você, pode se sentir bem melhor. Você se sente apoiado e tem mais força de forma a lidar com sua emoção forte. Se você está tomando algo que seja tóxico para seu corpo e percebe que isso te fará doente, mesmo com esse insight você pode não ser capaz de mudar o hábito. Mas se você está cercado por pessoas que não tem o mesmo problema, fica fácil de mudar. É por isso que é muito importante praticar no contexto de uma Sangha.

 

É uma sorte quando temos um amigo que é forte na prática, um irmão ou irmã no Dharma. Sem uma Sangha, sem outros praticantes, a prática será difícil. Você sempre pode pedir aos irmãos e irmãs para praticar olhar em profundidade com você a cada vez que você precise de apoio. Como você se sente apoiado lá, a Sangha é a arranjo e o ambiente mais apropriado para a prática de olhar em profundidade. Se você tem uma Sangha de dois, três, talvez cinqüenta pessoas que estão praticando corretamente – recebendo alegria, paz e felicidade da prática – então você é a pessoa mais sortuda da Terra.

 

Portanto praticar na preparação da sangha é muito mais fácil. Não temos que praticar tão intensamente. Nossa prática se torna a prática da “não-prática”. Isto significa muito. Não temos que nos forçar para praticar. Podemos desistir de toda luta e nos permitir ser, descansar. Para isso, contudo, precisamos de um pouco de treino e a Sangha está lá para tornar o treinamento fácil. Estar consciente que estamos numa sangha onde as pessoas estão felizes em ser plenamente atentos, onde as pessoas estão vivendo profundamente os momentos de seus dias, é suficiente. Eu sempre me sinto feliz na presença de uma Sangha feliz. Se você se coloca em um ambiente assim, então a transformação acontecerá sem muito esforço. Esta é a minha experiência.

 

A razão pela qual tomamos refúgio em algo é porque precisamos de proteção. Mas frequentemente tomamos refúgio em pessoas ou coisas que não são absolutamente sólidas. Podemos sentir que não somos fortes o suficiente para ficarmos sozinhos, portanto somos tentados a procurar alguém para tomar refúgio. Somos inclinados a pensar que se temos alguém que seja forte e pode ser nosso refúgio, então nossa vida será mais fácil. Precisamos ser muito cuidadosos, porque se tomamos refúgio em uma pessoa que não tem estabilidade, então o pouco de solidez que temos em nós mesmos será inteiramente perdido. Muitas pessoas fizeram isso e perderam a solidez e liberdade que uma vez obtiveram.

 

Quando uma situação é perigosa, você precisa escapar, precisa tomar refúgio em um lugar que seja seguro, que seja sólido. A Terra é algo que podemos tomar refúgio porque é sólida. Podemos construir casas na terra, mas não podemos construir na areia. Com a Sangha é o mesmo. Plena atenção, concentração e insight construíram Sanghas e indivíduos que são sólidos, portanto quando você tomar refúgio na Sangha, toma refúgio nos mais sólidos elementos.

 

Quando você está com raiva, sabe como voltar para sua respiração atenta e toma refúgio na plena atenção, se tornando forte. Você pode habitar pacificamente neste momento e é capaz de lidar com a situação de um modo muito mais lúcido. Você sabe que dentro de você há os elementos de plena atenção, concentração e insight. Estas sementes estão sempre lá. Se você tem um amigo, um mestre, uma Sangha que pode te ajudar a tocar essas sementes e ajudá-las a crescer, então tem o melhor tipo de proteção.

 

Este é o papel da Sangha para nosso apoio, proteção e nutrição. Na Sangha há estabilidade e alegria. A Sangha é devotada à prática da plena atenção, concentração e insight e enquanto todos na Sangha lucram da sua própria plena atenção, também podem tomar refúgio na energia coletiva de plena atenção, concentração e insight da Sangha. É por isso que há um sentido de solidez e segurança na Sangha. Não estamos com medo porque a Sangha está lá para nos proteger.

 

São como bandos de gansos selvagens que viajam juntos do norte para o sul em quantidades enormes. Se um pássaro viaja sozinho, será facilmente capturado, mas se eles ficam juntos, estão mais seguros. Perto de Plum Village há caçadores que usam o som dos pássaros para atrair os gansos para que desçam. Se um ganso selvagem deixa o bando e desce sozinho, será facilmente abatido pelos caçadores.

 

Acontece o mesmo com a Sangha. Se pensamos que podemos viver sozinhos, longe da Sangha, não conhecemos nossas próprias forças ou nossas próprias fraquezas. Graças a Sangha não entramos nos caminhos da escuridão e sofrimento. Mesmo quando a Sangha parece não estar fazendo nada, de fato está fazendo muito, porque na Sangha há proteção.

 

Sem a Sangha facilmente caímos nas armadilhas dos cinco desejos. Uma vez nessas armadilhas, seremos queimados pelas chamas das aflições e sofrimento. Mantendo os treinamentos de plena atenção e tomando refúgio na proteção da Sangha é um bom modo de evitar ser capturado nas armadilhas dos cinco desejos. Mantemos os treinamentos de plena atenção de forma a que eles nos protejam. O restante da Sangha estará sempre mantendo os mesmos treinamentos de plena atenção e nos ajudando.

 

Algumas pessoas me falaram que nunca se sentiram seguros antes de irem a um retiro. Então depois de sentar, comer e andar em plena atenção com a Sangha, pela primeira vez tiveram um sentimento de segurança. Mesmo pequenas criaturas morando próximas se sentem mais seguras porque estamos plenamente atentos e fazemos nosso melhor para não feri-las. Este sentimento de segurança pode levar a alegria. Podemos praticar assim:

 

Inspirando, vejo que sou parte de uma Sangha, e estou sendo protegido pela minha Sangha.

Expirando sinto alegria.

 

O Dharma pode te proteger – Dharma não no sentido de uma palestra de Dharma ou livro – mas o Dharma como uma prática encarnada pelas pessoas como você. Quando você pratica a respiração atenta, caminhada atenta, ouvir atentamente o sino, traz para dentro de si os elementos de paz e estabilidade e estará protegido durante este tempo. Você começa a radiar a energia da estabilidade e paz em torno de você. Isto ajudará a proteger seu filho e seus amados. Embora você não possa dar uma palestra de Dharma com suas palavras, estará dando uma palestra de Dharma com seu corpo, com sua inspiração, com sua expiração, com sua vida. Isto é o Dharma vivo. Precisamos muito disso, assim como precisamos da Sangha viva.

 

(Traduzido do livro “Friends on the path” – Thich Nhat Hanh)

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