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 Estudos Budistas

Tradição do Ven. Thich Nhat Hanh

 

Praticando Plena Consciência

 

Não há paz ou felicidade sem plena consciência. Plena consciência é lembrar de voltar ao momento presente. Tudo que estamos procurando está aqui no momento presente. Se permitirmos a nós mesmos estar no momento presente, teremos a capacidade de tocar as coisas maravilhosas. Mas se não nos permitirmos, continuaremos a lutar.

 

Plena consciência nos ajuda a viver de forma mais feliz e ver a beleza das coisas mais profundamente. Quando você olha para a lua cheia com plena consciência, ela é muito mais bonita. Quando você abraça alguém com plena consciência, esta pessoa é mais real e doce.

 

Inspirando, ela está viva.

Agora, ela está em meus braços.

Expirando, eu estou muito feliz.

 

Sem plena consciência, você na realidade não está vivo. Ser plenamente consciente faz tudo que você realiza mais brilhante, mais bonito. Quando você olha para uma flor com plena atenção, a flor revela sua beleza para você em profundidade. Praticar plena consciência é ser feliz e desfrutar o que o momento traz para você, incluindo todas as maravilhosas coisas dentro de você – seus olhos, seu coração, seu pulmão – e todas as coisas maravilhosas do fora de você – brilho do sol, pessoas, pássaros, árvores. Através da plena consciência, você achará que tem ainda mais razões para ser feliz que você pensa.

 

Plena consciência também ajuda a aliviar a dor. Quando a dor entra em contato com a plena consciência, começa lentamente a se dissolver. Se você tem dor, mas não sabe, ela ficará com você por um longo tempo. Quando você está consciente da sua dor e você a abraça com os braços da sua plena atenção, ela começa a se transformar.

 

Quando você está com dor, pode usar sua plena atenção para abraçá-la suavemente, da mesma maneira que uma mãe pega seu bebê nos braços para acalmá-lo. Se você abraça sua dor dessa maneira, ela irá se transformar. Um bebê chorando não deve ser deixado sem ser atendido, e também não sua dor.

 

Na manhã bem cedo, as flores estão fechadas, mas se o sol brilha, pequenas partículas de brilho do sol penetram nas flores e logo você vê uma transformação. Cada flor abre e se mostra ao sol. Nosso sofrimento é assim, se nós o expusermos a luz da plena atenção, ele mudará.

 

Aprender a viver profundamente no aqui e agora começa com a prática de parar. Há uma história Zen bem conhecida sobre um homem galopando um cavalo. Alguém assistindo grita para ele: “Onde você está indo?” e o homem responde “Não sei, pergunte ao cavalo.”

 

Esta história pode ser engraçada, mas é também verdade. Não sabemos exatamente onde estamos indo ou porque estamos correndo. Um cavalo galopante está nos empurrando e decidindo tudo por nós. E nós seguimos. Este cavalo é chamado “energia de hábito”. Você pode receber essa energia de seus pais ou ancestrais. Suas palavras e ações são ditadas por essa energia e você não tem soberania sobre si mesmo. Não é você, mas o cavalo que está te empurrando para frente. É a energia de hábito que te faz falar e fazer coisas apesar de você mesmo. Isto causa ferimento a você e aos outros.

 

Por exemplo, mesmo que saibamos que se dissermos algo desagradável para alguém, criaremos sofrimento para nós mesmo e para aqueles a nosso redor, ainda assim dizemos. Depois podemos nos arrepender e dizer: “Eu não pude ajudar. A força que me impelia era mais forte.” Então sinceramente prometemos a nós mesmos que na próxima vez não diremos coisas desagradáveis. Mas quando a situação surge novamente, fazemos exatamente a mesma coisa, dizendo e fazendo coisas que ferem não só aos outros mas também a nós mesmos. Este tipo de energia é a energia de hábito.

 

Nossa tarefa então, é nos tornar conscientes desta energia de hábito e não deixar que ela nos empurre mais. Podemos sorrir e dizer: “Olá, minha energia de hábito, sei que você está aí.” Portanto, o primeiro modo de tomar conta de nós mesmos é aprender como parar e olhar para dentro. Esta é uma prática maravilhosa.

 

Quando nos tornamos agitados, quando alguém está com raiva ou gritando, quando estamos muito tristes ou deprimidos, o que podemos fazer para sorrirmos novamente e estarmos vivos? Se aprendermos a arte de parar, poderemos acalmar as coisas dentro de nós e ao nosso redor. O objetivo de parar é nos tornarmos mais calmos, com a visão clara e sólidos. Se não estamos calmos, com a visão clara e sólidos, não podemos encarar nossos problemas.

 

Parar não significa sentar parado. Mesmo se você sentar em um lugar, sua mente pode estar mergulhada no passado, no futuro ou nos seus projetos e isso não é parar. Dentro de nós há um vídeo que passa o tempo todo sem parar. Você pensa nisto ou naquilo, vê uma imagem e então outra. Nunca para. Portanto mesmo que você não diga nada em voz alta, não há silêncio por dentro. O silêncio nos ajuda a desfrutar o que está aqui no momento presente. Permite-nos olhar ao por do sol e realmente aproveitá-lo.

 

Portanto parar é voltar ao aqui e agora e tocar as maravilhas da vida que estão disponíveis nesse momento. Se você não parar, sua mente não estará unida a seu corpo – seu corpo pode estar sentado em um lugar, mas sua mente estará em outro. Parar traz seu corpo e mente juntos, de volta ao aqui e agora.

 

Uma parte importante de nossa prática é olhar em profundidade de forma a ver. Freqüentemente sofremos porque não olhamos cuidadosamente e temos conceitos errados. É como alguém andando em um caminho à noite que vê uma cobra e grita: “Uma cobra.” Todos correm e quando uma luz é colocada sobre a “cobra”, mostra que a cobra é apenas uma corda no caminho. Portanto de forma a tomar conta de nós mesmos, para acalmar as coisas dentro de nós e ao nosso redor, é preciso praticamos parar e olhar em profundidade.

 

Ao parar – sentando quietamente, inspirando e expirando, criando silêncio interior – você se torna mais sólido, mais concentrado e mais inteligente. Sua mente é clara e você reage bem porque é sólido e forte. Agora você pode olhar profundamente ao que está acontecendo dentro de você e à sua volta.

 

Meditação sentada é um dos modos de voltar ao aqui e agora. Meditação é uma maneira maravilhosa de parar. Se soubermos como praticar meditação sentada, nos tornaremos claros, sólidos e fortes. Então não será fácil para ninguém nos provocar e nos fazer perder a compostura. Portanto sente-se como uma montanha. Nenhum vento pode soprar e derrubar a montanha. Se não puder sentar por meia hora, sente apenas por três minutos. Se puder sentar como uma montanha por três minutos isto já será muito bom.

 

Quando você senta, tenha certeza que não está sentando por outra pessoa, sente-se por você mesmo. Porque eu sento? Porque eu gosto. Não diga: “Eu sento porque quero obter a natureza de Buda”. Se alguém perguntar por que você senta diga: “Eu sento porque gosto.” Esta é a melhor resposta, eu penso. Você desfruta o sentar porque se torna uma flor, uma montanha, água em repouso e espaço vazio. Quando se torna todas essas coisas maravilhosas, você passa a ser verdadeiramente você mesmo, vivendo profundamente no aqui e agora.

 

Se sentar fosse desagradável e requeresse muito esforço, eu não sentaria. Sento apenas porque me faz feliz. Não o faria se me fizesse sofrer. Sentar em meditação significa estar presente com cem por cento de si mesmo. Se inicialmente você está presente com apenas oitenta por cento, isto é bom o suficiente. Você se tornará cada vez melhor com o tempo. Talvez ontem tenha sido oitenta por cento, mas hoje seja oitenta e cinco por cento. Quanto mais presente você está, mais feliz e sólido se torna. Sentar existe apenas para sua felicidade e estabilidade, não para a de outra pessoa.

 

Quando sentamos e meditamos, paramos e deixamos nossa mente se tornar mais clara e calma. É como a lama sedimentando na água. Se você colocar lama em um copo de água e deixar ela se assentar, a lama lentamente se depositará no fundo e a água se tornará clara. Se você mover ou centrifugar a lama, ela não terá uma chance de se sedimentar. Quando a lama está calma, a água é clara. O mesmo é verdade com nossa mente.

 

Quando você senta, sinta-se livre de se sentar em qualquer posição – lótus, meio-lótus, crisântemo ou meio-crisântemo. A posição de lótus é a posição de pernas cruzadas. A posição do crisântemo é qualquer posição que você goste.

 

Escolha a posição que seja mais confortável para você. A posição de lótus é considerada por muitos a mais bonita e estável. Se eu sentar nesta posição, então meu corpo fica muito estável, e mesmo se me empurrarem eu não cairei. Quando nossos corpos estão estáveis, nossas mentes estão também porque corpo e mente se influenciam um ao outro.

 

A meditação pode afetar nossa infelicidade? Sim, pode. Através da meditação, a felicidade se torna mais real e importante e a infelicidade começa a diminuir. Através da meditação nosso lixo é transformado em composto e breve se tornará flores novamente. Através da meditação aprendemos a praticar a ser felizes e fazer as outras pessoas felizes. É assim que tomamos conta de nossa infelicidade.

 

(Traduzido do livro Under a Rose Apple Tree - Thich Nhat Hanh por Leonardo Dobbin)

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